RECORDAÇÕES...

Vou hoje recordar uma personagem que marcou a minha infancia e juventude,Luis Lopes,conhecido como Tio Lameirão e ilustro esta mensagem com uma foto do famoso quadro LUAR NO MONTADO do conhecido e prestigiado Pintor Alvaladense Antonio Saiote,seu bisneto.

Cheguei a Alvalade em 1933,meu pai chegara um ano antes e já tinha alguns amigos,entre eles o Tio Lameirão,era proprietário do Monte Zambujeira,na margem direita do Rio Sado,recordo com saudade os belos Figos brancos que iamos colher da arvore e comer logo pela manhã,sabia ler,muito raro em pessoas nascidas no Sec. XIX e falava com grande devoção das Professias de Bandarra,dizia que estava a guardar mantimentos porque,segundo Bandarra iriamos sofrer um grande cataclismo. Para quem não conheça, informo que Bandarra foi Sapateiro,trovador e profeta que viveu em Trancoso no Sec.XVI.teve influencia em escritores,como Padre Antonio Vieira e  Fernando Pessoa. Os Alvaladenses iam consultá-lo para saberem as previsões de chuvas,ou secas,com influencias na agricultura. Era uma personalidade bem destacada na sua época. Na minha juventude,na atividade de caixeiro na loja do Snr Inacio Cabrita,tive muitas oportunidades de convivermos. Esclareço que nos anos 40 do Sec. XX os agricultores viviam com muitas dificuldades,na loja tudo se vendia,mercearias roupas,calçado,padaria,drogaria,ferragens e até se faziam seguros e agencia bancaria,perante a crise os agricultores tinham de comprar a crédito,sobretudo quando tinham 4 ou 5 filhos,os comerciantes quando as contas de débito cresciam,compravam as propriedades a troco dos fornecimentos,assim os maiores proprietários de prédios rusticos e urbanos em Alvalade eram 3 comerciantes,não cito nomes,os mais antigos sabem quem foram. Isto para dizer que enquanto viveu o Tio Luis Lopes ia muitas vezes á loja porque entregou o Monte da Zambujeira em troca da divida e futuras compras. Não conheço os pormenores do negócio,mas como o comprador e meu antigo patrão, era pessoa honesta, creio que tudo foi feito com correção. Sempre que falavamos o Tio Lameirão referia as professias de Bandarra que o orientaram por toda a vida. Antes de falecer dizia aos filhos que não queria ser vestido,nem caixão,para ir diretamente para a Terra que tudo cria e tudo gasta,claro que a familia não cumpriu totalmente este desejo. Volto a dizer que foi pessoa que nunca mais esqueci e marcou positivamente a minha infancia.

Jraposonobre@hotmail.com