Num Inverno que tem sido de seca,há mais de 2 meses que não chove,recordamos anos chuvosos,citando dois factos que estão vivos na nossa memoria.
A imagem maior mostra a construção do viaduto que liga a Ponte dos Arcos á Ponte sobre a via férrea, em dia de cheia no Sado mas isto tem uma historia que vou contar.Quando os técnicos da divisão de Pontes da ex-Junta Autónoma das Estradas começaram os estudos não acreditaram que em anos chuvosos o rio saia das margens inundando toda a varzea e preparavam-se para projetarem um aterro entre as duas pontes,apesar de serem informados,acontece que nesse ano aconteceu uma das grandes cheias,o amigo Chico Guerreiro,por coincidência cunhado do Eng. Sabino,irmão da Professora D. Judite Sabino Guerreiro,um dos tecnicos responsáveis,
pediu-me que fotografasse a cheia mostrando onde a agua chegou,tendo por referencia uma oliveira da horta do Snr.Costa,junto da via ferrea. Foi essa foto que convenceu os tecnicos para projetarem o Viaduto,em vez do aterro que sendo construido,iria provocar,em situação de grandes cheias,a inundação da via ferrea e da Estação,onde circulam os comboios da linha do Sul,fiquei feliz por ver que uma foto minha,um dos meus óbis,ajudou a resolver um problema que teria graves consequências.
Sobre cheias nos rios vou recordar um caso trájico que está bem vivo nas minhas memórias de infância. estavamos na década de 30 do Sec.XX,era ainda criança e brincava junto de casa,Posto da GNR,o Inverno era bastante chuvoso,as cheias tinham alagado toda a várzea,até perto da passagem de nível,mas nesse horrivel dia o Sado tinha voltado ao seu leito,a corrente era muito forte,para passagem havia uma estreita pinguela com arame num dos lados para apoio,uma menina de 14 anos e seu tio voltavam ao Monte Coitos onde viviam,a menina assustada com a violência da corrente,caiu para o rio,seu tio atirou-se procurando salvá-la,os dois foram arrastados e não resistiram,sendo os seus corpos encontrados a centenas de metros,já sem vida,encalhados nos arbustos das margens,trajédia que comoveu toda a população,não cito nomes,mas ainda existem vários familiares,não mais esqueci apesar de já terem decorrido quási 80 anos. Nos dias de cheias toda a população vinha observar,do adro da Igreja,ou Detrás dos Quintais viam-se as cheias de Campilhas e Sado,o terraço de minha casa,onde hoje está o Algazarra Bar era o miradouro principal,os mestres sapateiros que trabalhavam na oficina de meu sogro,na brincadeira,cobravam alguns centavos,para no 1º de Maio comerem o Borrego.
Fiz largas dezenas de fotos,mas poucas existem,como as que coloquei aqui.Com a construção da Barragem do Monte da Rocha,no Sado,não voltou a haver cheias e o leito do rio é hoje um matagal,merecendo que o Ministério do Ambiente intervisse.